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Capítulo 30

      Gaby levantou da cama sem vontade de fazer nada. Lavou o rosto e se olhou no espelho. Olhou as horas e percebeu que era muito mais cedo do que ela imaginava, estava se sentindo sozinha e não sabia mais o que fazer para parar de sofrer.

 

      O dia inteiro passou e Gaby não fez nada além de almoçar e ver televisão. Eram dias vazios sem nada de interessante. Volta e meia ela olhava a carta, mas não tinha coragem de reler. Não queria lembrar tudo o que ela fez por conta da carta.

 

      Na falta do que fazer, Gaby ligou para Carol, pra conversar um pouco com a amiga. Já tinham alguns dias que as duas não se falavam.

 

Gaby - "Boa tarde, amiga. Como você está?" - Gaby falava tentando esconder o sofrimento, mas não deu muito certo.

 

Carol - "Pelo visto as coisas ainda não se resolveram né? Posso perceber pela sua voz."

 

Gaby acabou desabafando tudo. Tudo o que guardou durante esses dias vazios e silenciosos.

 

Gaby – “Ele não apareceu. Já deixei milhões de recados na caixa postal e nada. Desde aquele dia não nos falamos mais.”

 

Carol – “Bom, se ele saiu com um bolsa pequena é capaz de ter voltado pro apartamento.” – Gaby arregalou o olhou, não tinha pensado nessa possibilidade. Ainda ao telefone com Carol, ela pegou sua bolsa e foi direto para o apartamento dele.

 

      Quando chegou no prédio sentiu uma felicidade misturada com nervosismo, mas logo a tristeza voltou a tomar conta do seu dia. O porteiro informou que Bernie não estava por lá. Parece que uma menina havia passado pelo apartamento dele para pegar roupas a mais. Antes de entrar no carro sua mãe ligou.

 

Norma – “E ai, filha? Como você está?”

 

Gaby – “Ain, mãe. Estou péssima. Ainda não consegui falar com o Bernie.”

 

Norma – “Não quero te deixar pior do que você está, mas algumas coisas acontecem pra nos fazer aprender a lição. Filha, você tem muito medo de se entregar. Quando estamos apaixonadas nos jogamos. Você negou até o ultimo momento que estava apaixonada e talvez tenha percebido tarde demais.” – Gaby já estava aos prantos de novo.

 

Gaby – “Você está querendo me dizer que eu perdi o amor da minha vida?”

 

Norma – “Calma, filha. Para e pensa um pouco. Você vai encontrar uma saída.”

 

      Gaby entrou no carro e foi em direção à sua casa. Já estava anoitecendo e mais um dia se passou sem nenhuma boa notícia. O celular dela tocou e ela se assustou. Encostou o carro imediatamente, mas percebeu que era Carol.

 

Carol – “E ai, amiga? Ele estava lá?”

 

Gaby – “Não. Não estava! Carol, não sei mais o que fazer. Será que ele não me ama mais?”

 

Carol – “Amiga, vou ser bem sincera com você. Ele pode estar fazendo a mesma coisa que você fez para esquecer o Carlos.”

 

Gaby – “Não to te entendendo, Carol.”

 

Carol – “Já pensou na possibilidade de ele estar com outra pessoa para esquecer você?”

 

      As palavras não saíram mais da boca de Gaby. Ela não tinha forças para pensar em tal possibilidade. Não queria imaginar que seria possível que ele a esquecesse, não queria nem saber de um futuro sem Bernie.

 

      Depois desse desespero todo, Gaby chegou em casa com raiva. Raiva de uma suposta amiga que o fizesse esquecer ela. Raiva. Raiva de tudo. As lágrimas secaram. Ela bateu a porta com força, jogou suas coisas na mesa e ligou o som. Algo agitado que a tirasse aquela incerteza.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

      Preparou um drink BEM forte. Tinha um olhar longe. Colocou tudo num copo grande.

 

Gaby – “Você é igual aos outros. Vou fazer como minha mãe falou: beber, como eu sempre fiz. Um brinde à tudo aquilo o que vivemos e que eu AINDA não consegui esquecer.” – Gaby falava em voz alta para tentar se convencer. mas a angústia por saber onde Bernie estava vinha assombrar. – “Cadê você meu amor? Não sei mais o que pensar. Quero ir atrás de você, mas onde? Como você fez isso comigo?” – Gaby ia ficando mais e mais agitada. A agitação e a raiva aumentavam junto com as lágrimas em seu rosto. RAIVA.

 

       O copo estourou na parede e um choro desesperado tomou conta daquela mulher que não estava bêbada, muito menos sóbria. O que Carol falou com ela estava na mente perturbando.

 

Gaby – “Não quero mais fingir. Não quero mais fugir. Eu quero você, Bernie. Você é meu, SÓ meu. Não me esquece. Não me deixe sozinha. Quero estar nos seus braços e ficar com você.”

 

      O som fazia com que Gaby escutasse menos o seu choro, mesmo assim não parava de chorar. Ela tentou juntar os cacos de vidro do chão, mas não tinha cabeça pra reparar os efeitos da raiva. Largou tudo do jeito que estava e foi para o quarto.

 

      Chegou no quarto e teve a sensação de que sentiu o cheiro de Bernie, mas ela logo percebeu que era fruto da saudade. Mais uma vez lembrou os momentos maravilhosos que os dois viveram no quarto.

 

      Gaby caiu na cama como quem já não tinha mais forças para ficar em pé. Do jeito que ela caiu, ficou. Só pensava em como foi burra, como deixou escapar um amor tão grande, não conseguia juntar as peças. Chorou até dormir e voltar ao tormento da madrugada: os sonhos.

 

 

“Lá estava ele. Em outros braços, com outra mulher e distante dela. Tinham muitos obstáculos entre os dois, mas Gaby saiu correndo para tentar alcançar Bernie. Corria cada vez mais rápido e passava por todos que a tentavam impedir. Com muito sacrifício, Gaby conseguiu chegar em Bernie. Não viu quem era a menina que estava abraçada a ele, mas não se importou. A tirou dos braços dele e olhou bem nos olhos para falar tudo o que tinha guardado por tanto tempo.

 

Gaby – Sonhei tanto com esse momento. Pensei tanto em nós dois juntos de novo. (Gaby passou a mão no rosto dele e o beijou, precisava matar a saudade daquele beijo.) Te amo tanto. Senti a sua falta. Bernie, eu te amo. Não me deixe de novo, nunca mais. NUNCA MAIS. Te amo."

 

Ele a beijou, mas ela o afastou e se viu caindo num buraco fundo e escuro. Bernie ficava mais e mais longe da sua visão. A sensação era de que ele tinha ficado com o coração dela.

 

Gaby se lembrava dele com outra pessoa. E imaginava ele dizendo que tudo tinha acabado e que os dois já não poderiam mais ficar juntos. Ele já tinha outra pessoa. Era tarde demais para conseguir o amor da sua vida de volta. Gaby estava caindo no próprio buraco que armou. Toda a armadura que ela montou para não se entregar a uma só pessoa tinha se desmontado. Lá estava ela, sofrendo de novo, mesmo fora de um relacionamento.

 

Ao mesmo tempo em que vinha esse pensamento ruim, vinham recordações dos grandes momentos de amigos que os dois viveram. A amizade colorida e o quanto isso fez bem a ela. Cada arrepio que ela sentiu com o toque dele. Cada grito de prazer que ela não conseguiu controlar e que ela só teve com Bernie. As brincadeiras e os beijos, o corpo dele e a amizade. Seu corpo estremecia quando estava com Bernie. Era ele, sem dúvidas. Bernie sempre foi o homem dos seus sonhos, mas Gaby não soube perceber isso.”

 

Gaby acordou assustada e suada. Já tinha amanhecido. Ela pegou a carta que Bernie havia escrito e começou a ler.

 

Gaby – “Vou te achar, meu amor. E você vai me ajudar. Não posso viver sem você!”

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